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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Vai embora


Laura sabia o significado de tudo aquilo. Ela entendia como tudo funcionava. Ela observava tudo quieta, e sempre tirava mais do que todos esperavam. Mas o que mais ela poderia fazer, afinal? Sempre lhe foi negado todo o resto.
Ela continuava apenas observando. Conhecia mais do que aparentava. Mas, às vezes, ela deixava isso se mostrar. Ah, quando isso acontecia...
Brigas. Intrigas. Palavras não ditas.
Sempre que ela dizia, mesmo se dissesse muito, ainda sim, no final, sentia que mais precisava ser dito. E era engraçado. Na verdade, frustrante. Agoniante. Guardava tudo para si mesma. E tinha tanta coisa dentro de si mesma...
Mas o que Laura poderia fazer? Ela sempre se perguntava. Se perguntava todos os dias; não importava se falasse, nada, nunca, acontecia. E ela sempre soube que falava demais. Muito. Que devia ser cansativo ter de ouvir tudo o que ela tinha para dizer. E ela se sentia exausta de sempre ter algo para dizer. Era tão sufocante.
Sentia como se algo sempre a estivesse incomodando. Como se algo sempre a estivesse tirando alguma coisa. Todos os dias. E aos poucos.
Ela sentia como um grito entre os surdos. Sentia como se mostrasse algo de errado para os cegos. Sentia como se duvidasse de algo que todo mundo tinha certeza.
O que Laura poderia fazer?
Ah, não, mas a real graça de tudo, é que, sempre, ela sempre entendia tudo. Ela sabia tanto. Mesmo com todos os silêncios que lhe davam, ela sempre sabia. E quando mostrava que sabia, o outro subia um muro. Um muro que ela sempre fazia uma porta, no final. Mas sabe que ela sempre se cansava do esforço? Era triste de se ver; era como uma pessoa lutando todos os dias para mostrar a verdade para alguém, e essa pessoa não lhe desse ouvido. Por medo. Por falta de coragem. Por falta de esperança.
Todos sinônimos da mesma palavra: medo, medo, medo.
Não queria mudar. Não queria ouvir. Zona de conforto, zona de conforto, zona de conforto.
Ei, Laura, já chega! Ei, Laura, não vale a pena! Ei, Laura, você já fez muito!
Muito por alguém que não se importa. Muito por alguém que não quer nada. Muito por alguém que acha que tudo se resolve com superioridade. Muito por alguém arrogante. Muito por alguém que só liga para o que acredita.
Laura, chega de se machucar, mais do que você já é machucada, tentando curar alguém. Laura, você fez tanto. É só seguir. Segue, porque você merece. Laura, tem gente com você. Vai embora.

Ghost in my life






Ela te disse tantas vezes. Por que foi tão difícil escutar?
Ela te disse de todas as maneiras. Por que foi tão esforçado em ignorar?
Ela sempre quis teu bem. Por que você nunca se importou?
Ela sempre esteve ali. Por que você nunca olhou?
Ela tentou tanto. Por que sempre disse não?
Ela tentou te mostrar. Por que sempre se fingiu de cego?
Ela tentou te curar pelos dois. Por que você só a machucou mais?

terça-feira, 19 de maio de 2015

Só isso



Todo esse tempo eu sinto como se algo tivesse caindo e eu não pudesse fazer nada sobre isso. É como se fosse uma coisa que eu me importo muito, e a única coisa que posso fazer, é assistir cair. E é como efeito dominó, algo eminente, que não posso fazer absolutamente nada contra. A não ser, ter de aguentar tudo, da forma mais coerente e forte possível. E há muito, eu sinto. Sei que preciso ser forte, e não importa o que vá acontecer. Deixar de criar grandes momentos, para momentos pequenos. Deixar de aumentá-los, porque isso só fará mal a mim, e apenas a mim.
Deixar pra lá, esquecer, fingir não se importar. Tudo uma forma de proteção. Falhas, na maioria das vezes, mas necessárias. No entanto, até quando tudo isso vai durar? Não se foi há tanto tempo? Não mudou há tanto tempo? O que ainda faz aqui, de vez em quando, e bagunça tudo, só para arrumarem e aparecer para bagunçar de novo? É um clico, e isso precisa acabar. Não estamos aqui para levantar os mortos ou bancar Jesus; não vamos nos curar e não vamos conseguir ir além. Uma hora tudo acaba, e parece que a hora chegou. Mas nem todos perceberam ainda.
A bagunça precisa ser arrumada, os pensamentos precisam ser refeitos, as coisas em comum precisam ser esquecidas. Afinal, que sentido faz? É apenas uma bola de neve condenada ao fim da montanha. Nem sequer faz diferença. Ou se faz, a bagunça ficou tão grande, que não tem mais jeito. Tudo precisa ser ajeitado. Arrumado. Melhorado.
Pessoas te sobem num pedestal. Você sabe, e isso te torna o que, hoje, não percebem, mas que não é nada bom. E que pessoas como eu, agora de fora, sabem como isso funciona. Percebe, porque foi, talvez, a única pessoa que sempre disse a verdade. Verdade esta, que nunca quis ser ouvida. Verdade esta, que sempre foi ignorada. Verdade esta, que machucou, mas não mudou. Não mudou, porque não importa. Não importa, porque não aprende. Não aprende, porque não quer. Não quer, porque tem medo. E o medo se alimenta disto. E o medo continua. E o medo não transforma, não muda, não melhora. O medo te torna o mesmo. Mas você acha que está confortável. Acha, porque não quer sair da zona de conforto. Zona de conforto, que se tornou um mundo onde dar mais do que qualquer um consegue imaginar ou oferecer. É só engraçado o fato de que esse mundo é formado de mentiras guardadas no fundo da gaveta. Um mundo que, na verdade, é uma máscara. E que nunca vai embora, porque não quer crescer e tem medo de se machucar.
Ainda não descobriu que se machucar é inevitável, e que todo mundo se machuca, mas se recompõe no final. E que, se cair, pode se levantar de novo. E que erros te fazem crescer e te fazem aprender. E que se proteger é uma coisa, mas viver se escondendo é outra. E eu só espero que consiga perceber, porque eu não desejo mal a ninguém.

domingo, 10 de maio de 2015

Palavras e sentimentos jogados ao vento



Eu queria escrever, porque às vezes sinto isso. Sem saber o que quero dizer, mas sentir que preciso dizer algo. Não para alguém, ou para alguma coisa. É para mim. Sinto que preciso colocar em palavras, para mim. Para agora, para depois, para quando eu quiser. Porque são vivências. E estas vivências tornam-se, de certa forma, o que eu sou. Ou o que eu quero ser, ou me tornar.
E tem aquelas coisas que eu sinto, que eu não sei explicar. Que eu sempre digo. Que eu sempre sei que existem...
Aquela coisa de querer colocar em palavras o que, provavelmente, não tem como explicar. Ou apenas não achei o jeito certo ainda. Ou apenas é insistir em algo que não dá, mesmo.
Mas quem poderá dizer?
Quem poderá saber?
É o sentimento de algo errado, algo faltando, algo inacabado. Que precisa ser mudado, preenchido, retirado. É o sentimento de vazio, de verdade, de pessimismo.
O sentimento de querer. De não querer. De precisar de palavras. De não ter palavras. De suficiência, de questionamento, de querer, novamente.
E lá no fundo, bem no fundo, sempre sabe-se: isso tem explicação. Não tudo. Mas metade. E torna tudo tão confuso. Palavras e pensamentos jogados num mar de vários sentimentos e questionamentos.
Quando? Onde? Como? Por quê? O quê?
Tem mais? Tem menos?
É pra esperar, aguentar, viver?
Confuso. Sempre confuso. Mas é só pra tirar do peito. Não precisa fazer sentido. Afinal, nada disso faz. Por que eu iria fazer? Eu não faço questão.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Só pra tirar do peito



Nada. Ou tudo. Quem sabe?
Se nada for aquelas coisas que queremos e não conseguimos ter. E tudo for aquelas coisas que temos guardado há muito tempo, e nunca parece, exatamente, sair para qualquer coisa. Seja ela para se tornar real, ou apenas para ser tirada como um peso das costas.
Pensamentos. Dilemas. O querer e não querer. Os medos e os sonhos. As chances e as perdas. Os sentimentos e os desgostos.
O que você tem dentro de si? Bem lá no fundo?
O que você pensa ao fim da noite? Em quem?
O que você faz para melhorar tudo? O que você não faz?
O que você quer e o que você não quer? O que você precisa?
O que você não precisa?
Do que você tem medo e do que você tem coragem? O que te faz ter coragem e o que te faz ter medo?
O que te faz forte? O que te faz fraco?
Lá no fundo, nós sabemos: temos algo dentro que precisa ser tirado. Ou olhado. Ou doado. Ou só precisa desaparecer, para nunca mais voltar.
Lá no fundo, sabemos: o que você vê, que não está dizendo? O que você vê, que não está dizendo e admira?
Porque nós admiramos muitas coisas. Admiramos em silêncio. Por medo. Por vergonha. Por nenhum motivo aparente.
E se for preciso ser dito? Você diria? Por que não?
Nunca pensou que isso mudaria tudo? E talvez para melhor?
Nunca pensou em ser um pouco mais otimista?
Nunca pensou em ser um pouco menos pessimista?
Nunca pensou em sorrir para aquela pessoa em questão, só para ver o que acontece?
Nunca pensou em dizer, só para ver se finalmente acontece?
Nunca pensou em se abrir? Pro novo, pro de novo, pro além, para nada?
Se abra...
A vida pede isso.
Você também.